Meu avô Salustiano
Meu avô
Salustiano, aos noventa anos de idade, fez uma reunião de família. Seriam ao
todo setenta e dois filhos, trezentos e vinte e seis netos, cento e dois
bisnetos e uns quantos trinetos, para aí entre os quarenta e os cinquenta.
Esses, não estavam ainda assentes no seu livro de linhagem.
Tudo quanto o
meu avô fazia, era escrito em canhenhos comerciais. Tinha paixão pela escrita, pelo desenho das
letras, pela caligrafia. Passava horas a escrever. Num livro gordo do Deve e Haver
tinha uma folha para cada filho. Cada um com o seu nome (e o da sua mãe também)
data de nascimento e etc. Porque embora houvesse a Mamã-Grande
que, por direito, era a mãe de todos os seus filhos, cada seis, ou sete deles,
tinha uma mãe própria que os havia nascido.
Do velho, da
sua juventude, contavam-se coisas. Não se sabia onde
começava a fantasia e acabava a verdade. Tudo estava confundido. Ele próprio
dizia que viera dos matos ainda miúdo de doze ou treze anos. Chegara à grande
cidade e, por incrível que pareça, o que mais o atraíra tinham sido os
padrinhos: senhores de chapéu, casaco, corrente de relógio a lhes atravessar o
peito que amergulhava no bolsilho do colete, gravata fina, botins ou sapato
branco (é conforme) a desviarem-se das lamas do bairro.
Iam pelas ruas
e vinha, aqui e ali, um miúdo, limpando rapidamente a boca e esfregando as mãos
no calção mais ou menos sujo, pedir a benção:
-
Deus te abençoe - resmungava o padrinho,
fazendo uma vago sinal da cruz.
Um dia
experimentou. Deixou passar um padrinho e foi atrás dele.
-
A Sua Bença Padrinhe - e fez o gesto de ajoelhar e
beijar a mão.
-
Deus te abençoe - mas quando ia a traçar,
distraído, a cruz sobre a cabeça do miúdo, admirou-se:
e tu quem és afinal?
Não deu tempo
e fugiu, deixando o padrinho confundido. Um padrinho que se preze tem afilhados
às dezenas, mas mesmo assim, por um a gente tira a cara do outro. E este não se
parecia com ninguém.
Meu avô
Salustiano jurou que havia de ser um padrinho e tanto. Foi padrinho de dezenas
de crianças e dos seus próprios filhos e netos. Parou nos bisnetos, porque como
a família já estava dispersa, não podendo ser por igual, padrinho de todos, não
era de nenhum. Se havia virtude que prezasse muito, era a da justiça.
Casara cedo -
miúdo ainda dos seus dezassete ou dezoito anos, tendo Mamã-Grande
uns vinte e quantos. Encalhada e sem casamento já estivera na cidade (um
dinheirão, queixava-se o pai) onde passara
despercebida aos olhos masculinos. Parecia uma menininha. E nem o dinheiro do
pai (no mato, e com fama de que ter muito oiro enterrado) aliciou alguém. Unhas
de fome reconhecido, até pelo dote que oferecia (uma ninharia!) só um genro
burro quereria sustentar a filha de um sogro rico, à espera de ganhar a
herança.
Regressou,
mulata fina, pequenina e redonda, a bordar ponto de cruz, dias em cima de dias.
Meu avô Salustiano que era homem com faro, fixou a bordadeira e viu mais longe:
ali estava quem o levaria a ser o padrinho que sonhava.
Fez frente ao
futuro sogro, com uma proposta que o homem não estava à espera.
-
Porque não monta uma casa na cidade e vende directamente, em vez de dar lucro a
intermediários?
O velho era um tipo muito cheio de cautelas, mas
directo:
-
E ponho quem à frente do negócio?
-
Eu próprio.
-
P’ra me roubares?
-
Caso com a filha de vocemecê.
O
vendeiro ficou atónito. Ainda ensaiou um, “olha o preto de merda”, mas pensando
melhor: por uma palavra se ganha, por outra palavra se perde. O raio da filha
não fazia nada. Só despesa: linhas, bordados e mangonhices... Mais aproveitadas
estavam as outras raparigas no quintal: matumbas mas trabalhadeiras. Não
enjeitava o seu sangue, mas também não fazia de parvo.
Meu avô
Salustiano sabia apanhar as pessoas no seu momento fraco de hesitação:
-
Mais ainda: com a sua filha, levo-lhe
as outras todas que vocemecê tem aí.
Ora, parece que temos negócio: que melhor posso eu
arranjar para genro? De uma só vez fico sem responsabilidades: nem filhas, nem
despesas. Ninguém pode dizer que não as encaminhei. Em vez de caírem por aí nas
mãos de um qualquer.
O Casamento
foi mesmo assim (só muito mais tarde foram à Igreja) e lá seguiu a noiva, os
seus bordados e o séquito das suas irmãs que eram sete. Tudo até aí bem: Mamã
Grande engordava, feliz na sua gravidez e com ela as duas irmãs maiores. Avô
Salustiano explicara:
-
Senhora D. Angelina, não a quero ver pelos cantos a fungar que meu marido dorme
ou não dorme com as minhas irmãs. Durmo, sim senhor. Antes eu que sou pessoa de
respeito, que outro homem. Quero que a Senhora meta isto na cabeça: vocemecê
não é uma mulher, é uma Senhora. Dona desta casa. Dona das suas irmãs também.
Dos filhos das suas irmãs. Continue nos seus panos e elas que tratem da casa e
de si, como se fosse uma rainha.
D. Angelina, engoliu uma lágrima mais tremeluzente e
rebelde, e achou que o marido tinha razão. Foi para dentro ver se a mesa estava
posta e esperou que o marido se sentasse. Era o seu momento de glória: de todas
as mulheres que Salustiano teve, tinha e teria -
a única que se sentava à mesa com ele era D. Angelina Sirim Salustiano. Ele era, como vedes, um
homem de respeito e de princípios.
Os filhos
nasceram: António, Bernardo e Catarino, começando assim um alfabeto que haveria
de dar várias de voltas sem se repetir. Os negócios iam bem: o sogro (Deus o
tenha!) morrera quase logo e ele ganhara o contacto privilegiado com os sobas
que lhe continuavam a enviar longas caravanas de negócio.
Dez anos
passados e já era um senhor - um padrinho com trinta e
tantos filhos. Um único problema. Ou melhor dois:
Primeiro: um
dia deu conta de que um branco desses degredados, tentava agarrar a sua
terceira cunhada. Ela, encostada ao muro, debatia-se.
Ele foi dentro, pegou num sarrafo e Zás! O gajo cambaleou e caiu de borco no
chão. Valeu o vendeiro da frente que veio
a correr:
-
Ó Senhor Salustiano, veja lá não se desgrace.
E saiu dali com o filho da mãe do patrício que ainda
mal sentado num banco, com a cabeça aberta, balbuciava apalermado.
-
Mas quem é o sacana do preto que se atreveu a bater em mim.
-
Olhe - explicava o vendeiro,
enquanto esperava pela água quente que pedira ao mulherio do quintal, que
estava numa grande agitação do que é que foi, do como é que não foi -
tenha cuidado que este preto (e acentuava a palavra com jeitos gozões) é um
senhor bem colocado até no Palácio. Veja lá não vá parar com os costados a
Caconda, ou se um dia acorda criado de um desses sobas lá do fim do mundo. Sabe
quanto é que vale um escravo branco, sabe? Se quer um conselho, nunca mais
apareça por aqui...
E o homem nunca mais apareceu. O segundo caso, foi
um pouco como este, mas um bocado diferente: apanhou a mais nova das cunhadas
com um figuraço que andava por ali já há um tempo. Ele via e esperava pela
ocasião. Depois de confirmado, tirou-lhe
o filho que era dele e pô-la na rua. Para que vissem e
tomassem nota: “Quem lhe der de comer, vai com ela”. Ali esteve, encolhidinha e
coitada - três dias e três noites a
chorar, todos passando ao largo (que o que ele dizia era para se cumprir) até
que acabou por desistir e ir à vida. O tipo, o namorado ou quê, se vocês querem
saber, ninguém mais lhe pôs a vista em cima: fugiu? Foi morto? Só Deus sabe. O Avô Salustiano também não
pode afirmar nada - não sabia de ter visto, mas
calculava, pelo que teria mandado.
Em filhos foi
afortunado. Na vida teve os seus percalços: o advento da República (1910) foi
uma satisfação para todos os “filhos da terra” que se transformou em desgraça
miudinha com a vinda do Alto Comissário que chegou e montou uma máquina
colonial como deve de ser. Agora quem mandava nisto, só branco vindo da
metrópole. Nem os de cá.
A pouco e
pouco, avô Salustiano, foi ficando pobre -
vendeu casas, vendeu fazendas, vendeu isto e aquilo, mas nunca chegou a ficar
na miséria. Já tinha anos que sobravam e dinheiro bastante para viver sem
problemas. Tinha os filhos arrumados, todos com o seu ofício e as suas
primeiras letras, que era coisa rara no tempo. De tudo o que tinha, faltava-lhe
uma coisa para morrer descansado: juntar uma vez na vida toda a sua gente e
tirar com eles o seu primeiro retrato. Cada Salustiano saberia pela vida fora
quem era e donde viera.
Andou três
anos a preparar a festa. A escrever cartas com ajuda a Mamã-Grande
que sendo mais velha, estava mais poupada das vistas. Aqui, fazemos uma
explicação: Mamã-Grande sabia ler e escrever
e aprendera sozinha. Foi assim:
Um dia, farta
de bordados, sempre o mesmo ponto, sempre a mesma coisa, timidamente disse ao
Avô Salustiano que queria aprender a escrever o seu nome. O velho ponderou que
isto há viver e morrer e não vá ela, em sendo viúva, assinar de cruz e vêm-lhe
os meirinhos, juizes e outros ladrões e tomam-lhe
tudo. Depois, um dia destes, a gente tem de acabar com esta mancebia de preto
gentio e casar como deve. Não é bonito uma senhora não saber assinar, muito
embora na cidade, poucas o soubessem fazer. Uma pessoa que saiba assinar, mesmo
não sabendo ler, sempre impõe um outro respeito...
Três dias
depois mandou colocar junto à janela uma escrevaninha, daquelas de fechar e
abrir com a sua chavinha (mais do que ninguém sabia ele, que a escrita era uma
coisa íntima, e quase santa) quatro lápis de carvão, um lápis de tinta, um
tinteiro e quatro canetas de aparo a saber: ponta fina, ponta média, ponta
grossa e aquele aparo cortado que dava para Salustiano fazer as letras com
voltas grossas. Chegou arrumou o móvel, mandou os rapazes embora e disse
entregando-lhe uma tabuínha estreita
com uma coisa escrita: “Este é o seu nome, minha Senhora. Está aqui: Angelina
Sirim-Salustiano”. Agora comece a
trabalhar. E ela começou. Todos os dias à mesma hora, limpava o pó da
escrivaninha, de cima abaixo como se fosse um Menino-Jesus
e começava laboriosamente a
copiar. Até imitar com perfeição o desenho do seu nome. Depois atreveu-se a pegar, muito a medo,
nos jornais do seu homem. Copiava. Aí, as letras que desenhava eram diferentes -
aprenderia depois que umas eram impressas e as do seu nome, manuscritas. O Avô
Salustiano viu, percebeu a confusão, e passou uma tarde a desenhar-lhe
um alfabeto impresso com o manuscrito por baixo. Ela apurou-se
no estudo. O marido, passava e pensava consigo: “Mulher ocupada é mulher
feliz”. Assim fomos por um ano ou mais. Um dia, D. Angelina Sirim-Salustiano,
chegou-se ao marido e de lágrima
nos olhos, confessou uma coisa que ela não sabia bem se era ou não era pecado:
-
Senhor meu marido: ... parece que eu sei ler.
-
Sabe ler, como? Como é que pode saber ler? Quem lhe ensinou? Ora leia aqui.
E apresentou-lhe
o jornal que tinha trazido de fora. Ela começou a medo e depois foi pelas
linhas numa velocidade que até a ele custava seguir. Pela primeira vez o meu avô ficou gago, sem perceber
nada, o mundo estava ao contrário. Houvera um milagre em sua casa. Deu um berro
para o quintal. Trouxeram-lhe um marufo que refrescava
na cacimba, mas ele pediu vinho. Uma coisa desta precisa de muito álcool. Bebeu
três bons copos num fôlego. Ficou tonto. Virou-se
para D. Angelina, sua esposa que, com aqueles olhos redondos e grandes, chorava
silenciosa e copiosamente a sentença pelo crime que praticara e disse:
-
Senhora D. Angelina - minha Senhora e Esposa,
beijo-lhe as mãos. A Senhora é a
mulher mais esperta desta colónia. E a mais santa também, porque conseguiu
fazer um milagre nunca visto: aprendeu a ler sozinha. Não precisou de mestre.
Eu próprio, Salustiano, precisei de mestre e muita porrada. À Senhora ninguém
bateu para aprender, isto é que é uma coisa difícil de acreditar. Beijo as sua
mãos, minha Senhora.
Ajoelhou. Beijou. E foi repousar a bebedeira e o
desentendimento para a preguiceira da varanda. D. Angelina chorava: mares e
oceanos de alegria - nunca na vida pensara que
fosse possível ser feliz assim.
A partir
daquele dia, Mamã-Grande abriu escola de
família e nenhum filho homem ou mulher de Salustiano, saiu para a vida sem as
primeira letras.
Mas estávamos
a contar que aos noventa anos Salustiano reuniu toda a sua gente. Que andou
três anos a intimar toda a família. Que alugou quatro quintais vizinhos para
fazer as comidas. Quintal dele era só para reunir. O pessoal dormia num grande
terreno no Bungo que lhe sobrara do tempo das caravanas. Vinham de madrugada,
iam à noite. Quando se pilhavam fora da cidade branca, cantavam. Era um vozerio
imenso, desencontrado, mas contente. D. Angélica, quase ao cem anos ainda
conhecia a todos pelo nome. Um orgulho para o velho.
Estava então
cada filho e sua família sentado em seu canto: o pai numa cadeira, a mulher num
banco gentio; se era filha, sentava-se
ela na cadeira e o genro no banco. Os filhos e os filhos dos filhos que eram os
netos todos à volta nas mesmas esteiras.
No topo do
quintal Salustiano e D. Angélica em cadeira de espaldar (como a dos bispos)
e, em cadeiras normais, as mães sobrantes, das quais doze já tinham falecido.
Vinham os filhos, com a sua gente em fila, pediam a benção, à mãe verdadeira,
às tias, subiam depois até à Mamã-Grande
que segredava para o marido o nome do filho em presença. Assim, depois de
muitos anos, Salustiano chamou sem engano cada um dos seus filhos, abençoou os
seus trezentos e muitos netos, conheceu quase todos os seus bisnetos e procurou
(e encontrou, diga-se ) parecenças nos seus
vinte e quatro trinetos. Fez as contas e somou quatrocentos e trinta e oito
pessoas saídos de si. Tomou então a palavra e falou:
-
Primeiro rezemos pelos nossas mães, nossos filhos e netos que Deus já chamou, mas
foram contados, porque quem morre, mesmo morrendo continua família.
Rezaram os que sabiam rezar. Fingiram os que não
sabiam. Que nisto de religião Salustiano nunca fora muito de se preocupar. Ia
até ao baptismo e pronto.
-
Agora um aviso: os meus netos e bisnetos que não têm os filhos registados no
meu livro, vêm amanhã para escrever os nomes. Mamã-Grande
estará à espera.
Olhou, orgulhoso para aquela pequena multidão -
tudo seu. Tudo sangue seu. Tudo gente sua.
-
Quero dizer: eu já estou velho, não duro muito.(protestos) Já acabei e quis
fazer esta despedida. Dinheiro não tenho para deixar. Se tivesse deitava fora
para vocês não andar à pancada uns com os outros.(risos) Estou a vos falar:
família nunca se bate. Eu amaldiçoo o meu filho, o meu neto, o meu bisneto,
trineto ou pantaraneto que bata no seu irmão do mesmo meu sangue. (murmúrios de
assentimento) Deixei-vos a vida, com a Graça de
Deus. Esta casa e este quintal depois da minha morte é da Mamã-Gande
e depois da morte dela das manas, até à última. Quando os velhos acabarem, tudo
isto e o terreno do Bungo passa para a Câmara (já assinei os papéis) e eles
farão aqui o Jardim Sirim Salustiano para que os netos venham passear no
quintal da minha casa.
A cerimónia terminou com muitas palmas, poeira, algazarra e D.
Angelina a chorar, copiosamente nos joelhos do marido.
O Avô Salustiano morreu em paz, três anos depois, enquanto D.
Angelina (que não durou muito mais) lhe recitava os nomes do livro da família.
Aguentou até ao último trineto e morreu. Simplesmente e assim. As manas foram,
pouco depois retiradas para uma boa casa. A Câmara precisava construir ali, uma
larga avenida que o povo começou a chamar Rua da Mamã-Grande.
Assim durante anos. Depois, morreram os velhos, esqueceram-se
os novos, espalharam-se os Salustianos por esse
mundo fora (os tempos também eram outros) e um Presidente da Câmara colocou uma
lápide e a rua passou a chamar-se -
Avenida Dr. Hemengardo Varela Mendonça de Carvalho e Costa Mendes de Castro e Silva.
Quem fora o dito senhor, ninguém sabia muito bem. Mas todos se
lembravam da brava discussão que houvera, não só na Câmara como nos jornais da
época, por causa das vírgulas.
Uns, que à frente de alguns nomes deveria ter, por causa do fôlego,
uma vírgula. Assim e deste modo: Hemengardo Varela Mendonça (virgula) de
Carvalho e Costa (virgula) Mendes de Castro e Silva (pela lógica das virgulas:
ponto final).
Outros que não: nomes são nomes e não levam vírgulas. Vinham os
terceiros: escrevamos só o primeiro e o último nome: Dr. Hemengardo da Silva. É
pobre. Não diz nada da personalidade do grande homem que ele era, afirmou o
Presidente, que possivelmente também não sabia quem o homem fora. E continuou
na sua belíssima voz talhada para discursos: O nome é um património
inalienável. É, digamos assim, uma propriedade pessoal, a que todos têm direito
sem cortes nem alterações (falava com o gosto: punho direito fechado, pontuando
palavra por palavra, o verbo burilado). É um vínculo secular de sangue. Mas...e
os reis? Têm mais de vinte nomes e são conhecidos na história só por um, no
máximo dois: D. Manuel, D. João, D.Afonso Henriques...
S. Excelência pigarreou (podia ser atrapalhação, mas não era) e
disse serenamente: “Os reis não são para aqui chamados. Estamos numa República,
meus senhores.” E ponto final, que é como quem diz: ficou assim mesmo -
o nome completo, em letras miudinhas para caber na placa.
Logo depois da inauguração,
com a pompa e circunstância que lhe era devida, a rua passou a ser conhecida
por Rua da Respiração. Os miúdos da escola tinham inventado um jogo e era
assim: tomar fôlego e ver quantos nomes seriam capazes de dizer de uma só vez.
Com duas voltas e meia, o recorde estava nos pulmões de um tal
Francisco João Sirim-Salustiano, tetraneto que o
meu avô Salustiano não tivera tempo de mandar apontar no seu livro de
família.